O Cristão e o Sofrimento

Nossa geração de crentes não aprendeu a lidar com o sofrimento e nem tão pouco com a morte. Diferentemente dos cristãos dos primeiros séculos, os quais viveram na pele as marcas do sofrimento e da dor, chegando, inclusive, a proclamar como o apóstolo Paulo dizia que o “viver é Cristo e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21), muitos têm sucumbidos na hora das intempéries da vida, permitido que a angústia assole os corações por não compreender qual o propósito de Deus no sofrimento.

Devido ao modelo de igreja influenciada pela teologia triunfalista, em que se ensina uma visão irrestrita de sucesso da fé neste mundo, o tema do sofrimento foi colocado de lado pelos pregadores e líderes religiosos. E quando o triunfo ensinado pelos falsos profetas não acontece, as pessoas começam a ter duas reações perigosas: primeiro se enchem de culpa por acharem que Deus permitiu o dia mal na vida deles por causa da sua pequena fé; segundo, e este mais grave, tendem a virar as costas para Deus, duvidando da sua bondade e fidelidade.

A verdade é que Deus nunca prometeu fazer de você um vencedor em todas as etapas da sua vida aqui neste mundo. A preocupação de Deus, de forma efetiva, não está simplesmente em te fazer feliz a todo tempo como num passe de mágica. Pelo contrário, a Bíblia diz que no “mundo tereis aflições” (João 16:33), e todo o plano de Deus nessa terra está voltado para redenção da sua vida. Portanto, se o sofrimento for um caminho no qual Deus te faça ficar mais próximo dele, com certeza Deus permitirá que o sofrimento bata à sua porta.

Por outro lado, as Escrituras também nos ensinam que a origem do sofrimento é o pecado. O livro de Gênesis afirma que, devido a desobediência do homem, o sofrimento passou a fazer parte da existência humana. O lugar de delícias foi modificado pela ação desastrosa do homem. Todo o cosmo foi influenciado pelo pecado humano, de tal modo que a Bíblia diz que até a natureza “geme” e “aguarda” com expectativa a redenção (Romanos 8:19). Portanto, como diz o teólogo John Macarthur, no seu livro Sociedade Sem Pecado, a sociedade moderna tende a subestimar a gravidade do pecado, concentrando apenas em temas positivos que visem o próprio bem-estar.

Não estou aqui a propagar a teologia do terror como muitos fazem, mas te conscientizar que o sofrimento faz parte da vida do cristão. Deus, por meio do sofrimento, corrige e lapida seu próprio povo para que este possa aprender a lidar com as coisas eternas. Desde o primeiro livro da Bíblia até o último, está muito claro que o sofrimento fará parte integrante da nossa trajetória. Não há como escapar disso. O diferencial é que, para o crente, haverá o consolo e a promessa de que um dia toda a lágrima será enxuta dos nossos olhos (Apocalipse 21:4).

A Bíblia diz que naquele grande dia o Senhor Jesus restaurará o homem e toda a sua criação, trazendo de volta aquilo que foi um dia um lugar de delícias e de prazer.

E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.

Isaías 65:17

Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.
Apocalipse 21:1

Enquanto isso não acontecer, saiba que você enfrentará tempos difíceis, como todos nossos pais na fé enfrentaram. Talvez me faltaria tempo para falar dos sofrimentos dos grandes homens de Deus. Citarei apenas dois homens que foram heróis da fé, mas mesmo assim passaram por percalços: Eliseu e Paulo. O primeiro foi considerado um dos maiores profetas do Antigo Testamento; e o segundo, o maior apóstolo e doutrinador do cristianismo.

A Bíblia diz que o profeta Eliseu sofria de uma doença grave. E pior, ele morreu dessa doença (2 Reis 13:14). É interessante notar que após a sua morte, lançaram um corpo de um soldado na sua sepultura, e este imediatamente foi ressuscitado, tamanha era a virtude que havia nos restos mortais do Profeta (2 Reis 13:21). Deus era com Eliseu mesmo na sua morte. Talvez se fosse nos dias de hoje, muitos diriam que Eliseu não era um homem de Deus, pois apesar de curar os outros, ele próprio ficou doente e morreu.

O segundo homem que sofreu as aflições de Cristo foi o Apóstolo Paulo. A Bíblia diz que Paulo tinha tanta virtude que até seus lenços e aventais eram colocados em doentes e estes eram sarados (Atos 19:12). Mesmo assim, o apóstolo dos gentios sofria de uma doença que ele chamou de “espinho na Carne” (2 Coríntios 12:7). Muitos especulam que espinho na carne era esse. Provavelmente era um grave problema de visão, devido à experiência que ele teve no caminho de Damasco (Atos 9:18). Sem falar dos açoites, prisões e perseguições que ele sofreu (2 Coríntios 11:24). Porém ele tinha certeza que as aflições do presente não são comparáveis com a glória que será revelada no dia de Cristo.

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.

Romanos 8:18

Portanto, meu irmão em Cristo, se você está sofrendo alguma dor ou perda, saiba que existe uma esperança para você. Deus pode te tirar desse sofrimento se assim for da perfeita vontade dEle. Mas se ele não fizer isso, não murmure. Apenas faça como o patriarca Jó que disse ao Senhor na hora da angústia: “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor”(Jó 1:21). Isso para muitos parece loucura, mas para nós é o poder de Deus.

Bibliografias Recomendadas:

Craig, William L. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010.

MacArthur, John. Sociedade sem pecado. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2019.

Keller, Timothy. Caminhando com Deus em meio à dor e sofrimento. São Paulo: Vida Nova, 2016.

Pr. Me. Francirley Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *