Os cantores e músicos cristãos são hoje levitas do Senhor?

O site “horadeberear.com.br” foi baseado na passagem do livro de Atos dos Apóstolos capítulo 17 que ressaltou a nobreza dos cristãos da cidade de Bereia os quais receberam a mensagem de Paulo e Silas com vívido interesse, mas – nem por isso – deixaram de dedicar-se ao estudo diário das escrituras para avaliar se tudo que eles ouviam dos apóstolos correspondia com as verdades da Palavra de Deus. (Atos 17:11).

No texto de hoje, eu quero abordar sobre o jargão moderno praticado na maioria das igrejas que insistem em dizer que os cantores e os músicos evangélicos são hoje os “levitas” do Senhor. Isso fazendo referência à tribo de Levi que foi separada por Deus, na antiga aliança, para cuidar das coisas de Yahveh na época do Tabernáculo e, posteriormente, do Templo de Jerusalém. No entanto, em nenhuma passagem do Novo Testamento, temos esse tipo de associação realizada por Cristo, e nem tão pouco pelos seus apóstolos. Trata-se de mais um dos modismos que sutilmente busca categorizar tipos de “crentes especiais” dentro da comunidade de fé.

Eu quero ressaltar aqui, porém, o papel imprescindível dos músicos e dos cantores na evangelização e na edificação espiritual da comunidade Cristã. Martinho Lutero, o grande reformador protestante, ficou mais conhecido pelos seus hinos escritos e cantados do que pelas suas prédicas e teses escritas. A música tem o poder de impactar as pessoas. Quem não se lembra do célebre hino “Castelo Forte” que foi composto por Lutero e cantado quando da sua convocação para se apresentar diante do imperador Carlos V? O Reformador estava naquele momento sob forte pressão e risco de ser condenado à fogueira por conta das suas teses reformistas.

Função do Levita no Antigo Testamento

As funções dos levitas não se resumiam apenas a conduzir cânticos na tenda ou no templo (2 Crônicas 31:2). Deus separou a tribo de Levi para que eles, exclusivamente, cuidassem de tudo que envolvesse o culto à Yahveh. Os levitas tinham a obrigação de cuidar da preparação da tenda, do transporte da arca da aliança, isso antes da construção do templo. Eles também preparavam e separavam os holocaustos que eram ofertados ao Senhor, e os que ficavam para o sustento dos sacerdotes. Os manuseios dos sacrifícios no altar eram realizados pelos sacerdotes. Inclusive estes também eram levitas, pois pertenciam à tribo de Levi. Segundo a Bíblia nem todo levita era separado ao sacerdócio, mas todo sacerdote era necessariamente levita. (Êxodo 4-5).

Portanto, o cântico não era o núcleo duro de trabalho dos levitas na época do Tabernáculo. Eles tinham todo um cuidado para manter o ambiente limpo e longe de insetos que poderiam apodrecer as ofertas separadas para o sacrifício. Além disso, nenhum levita poderia ter outra profissão. Eles ficavam em turno de revezamento, com escalas de 24 horas por dia, pois os serviços do templo funcionavam ininterruptamente. Era necessário manter tudo funcionando no altar do Senhor, inclusive conferindo o nível de azeite das lamparinas do templo e, acima de tudo, o fogo do altar que não deveria se apagar (Levítico. 6:13).

Levitas nos dias atuais

Nos dias atuais, não há mais essa categoria de pessoas separadas para, exclusivamente, aplicar a adoração no Reino de Deus. A Bíblia diz que a lei e os profetas duraram até João, o Batista (Lucas 16:16), de modo que é inapropriado evocar quaisquer símbolos do povo hebreu como se hoje houvesse uma categoria especial separada por Deus para ministração da adoração ao Senhor. Aliás, conforme a doutrina reformada do “sacerdócio universal dos crentes”, a partir da morte e ressurreição de Cristo, todos os salvos são sacerdotes reais capazes de ministrarem cultos ao Senhor:

Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; (1 Pedro 2:9)

Então, em síntese, não existe esta ideia de músicos e cantores “levitas” separados exclusivamente para ministrarem louvores na igreja como foram na época de Moisés. Muitos têm a concepção errada de que esses tais “levitas” da igreja são os responsáveis para criar um ambiente de adoração para preparar a igreja para receber a Palavra de Deus. No entanto, não há nenhum respaldo bíblico para se evocar tal prática. A ordem do culto (liturgia) pode ser perfeitamente ajustada pelo líder da igreja – Pastor – desde que direcionada pelo Espírito Santo e em observância à Palavra de Cristo.

Se você recebeu o dom de Deus para cantar e tocar na igreja, glorifica ao Senhor, pois isso é uma bênção dele na sua vida para o serviço Cristão. Porém, isso não lhe dá o direito de se achar o único responsável por guiar o povo de Deus à adoração. Aliás, o Novo Testamento já trouxe o rol taxativo de dons ministeriais, os quais devem nortear a configuração e liderança da Igreja. E é interessante que nestes, não há a figura do cantor ou do “levita”. Os únicos responsáveis pela condução do ministério eclesiástico cujo objetivo é a edificação do corpo de Cristo são: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores. Os dois primeiros já não existem mais, restando apenas os três últimos:

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.
(Efésios 4:11,12)

A Bíblia diz que há multiforme graça com variedades de ministérios e dons (Efésios 3:10 e 1 Pedro 4:10). Porém não há essa proeminência quase que em nível de igualdade com os chamados ao ministério, a saber: pastores, mestres e doutores, cujas funções foram doadas pelo próprio Cristo, conforme explícito no texto de Efésios 4:11, o qual diz que “Ele mesmo deu (…)” uns para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores. Além desses há os ministérios locais, que são designados pelos ministros de Cristo, tais como diáconos e presbíteros. Assim, não há qualquer relação entre o ministério dos levitas do AT e os músicos e cantores da Igreja. Estes possuem um papel importante na Igreja, mas são ofícios locais que devem estar totalmente subordinados ao “anjo da Igreja”, isto é, ao pastor da Igreja.

REFERÊNCIAS:

Todas as referências bíblicas citadas aqui foram retiradas da Bíblia versão Almeida Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF) disponível no site https://www.bibliaonline.com.br/acf.

Me. Francirley Oliveira

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