A Verdadeira Adoração

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. João 4:23,24

Aprendemos na última coluna sobre os perigos de prestar um culto falso ao Senhor. Hoje quero refletir com vocês sobre a verdadeira adoração. É no episódio do encontro de Cristo com a mulher samaritana que o Senhor Jesus dirimiu todas as dúvidas que havia sobre o tema. Tanto os judeus quanto os samaritanos estavam presos na ideia do “lugar” correto onde se deveria adorar. Para os samaritanos, o lugar de adoração deveria ser em Gerezim, cidade de Samaria onde foram recitadas as bençãos da Lei, conforme Deuteronômios 28:1-14. Os Judeus, por sua vez, afirmavam que o local de adoração era em Jerusalém, onde Davi, liderando os hebreus, estabeleceu a antiga cidade Jebusita como centro do seu Reino. Ali foi o local onde o magnífico Templo de Salomão foi construído por ordem de Deus a Davi.

Ao ler essa passagem, percebe-se que havia uma disputa teológica acerca de quem detinha a verdade sobre a adoração. E o foco estava no locus da adoração. Jesus abre os olhos da mulher dizendo que a salvação vinha dos judeus, porém o Senhor deixou claro que as leis cerimoniais eram apenas um “aio” para preparar a vinda do Messias. A hora estava marcada na agenda de Deus em que o foco da adoração não se resumiria às cerimônias, mas ao estado do adorador (João 4:21). O Senhor disse que “(…) a hora vem, e já chegou(…)” em que nem no Monte Gerezim, e nem em Jerusalém adoraríamos ao Pai. Apartir da Nova Aliança, a adoração seria em “espírito” e em “verdade”, pois o Pai procura a tais que assim o adorem (João 4:23).

Antes de prosseguir, vale um destaque sobre a confusão que ainda hoje se faz sobre o lugar de adoração. O povo evangélico, sobretudo aqueles que desconhecem as Escrituras, ainda acha que o único lugar de adoração é a igreja, o templo físico. Não é pouco comum ouvir as pessoas dizerem que vão à “Casa do Senhor” para adorar a Deus, quando se referem ao prédio da igreja. Quero te dizer que essa ideia é a mesma que havia na cabeça da mulher samaritana. As pessoas ainda hoje estão presas ao conceito de “lugar” de adoração, sendo que Cristo nos disse que a verdadeira adoração não se restringe mais ao espaço físico. A sua vida hoje é o templo do Senhor:

Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. 1 Coríntios 3:16,17.

Não estou aqui menosprezando a importância de se reunir no templo para adoramos a Deus em comunidade. A Bíblia recomenda que devemos manter comunhão com os irmãos para aprendermos uns com os outros. É no templo, como um quartel general, que forjamos os crentes para a batalha da adoração no mundo. Porém, pensar que o crente em Jesus só adora na igreja é um erro. Aliás, boa parte da adoração do servo de Cristo deve ser feita fora da igreja. É lá que o caráter de Cristo nos filhos de Deus deve ser revelado. A Bíblia diz que somos o sal da terra e a luz do mundo (Mateus 5:13,14). E o verso 16, do mesmo capítulo, afirma que nós glorificaremos ao nosso Pai que está nos céus, quando refletimos esta luz no mundo, e quando salgamos a terra:

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. Mateus 5:16.

A verdadeira adoração, segundo Jesus, é uma adoração “espiritual”. Os ímpios no mundo não podem adorar a Deus, pois eles estão mortos espiritualmente nos seus delitos e pecados (Efésios 2:1-2). Muitas pessoas estão adorando o que não conhece, como a mulher samaritana. É preciso nascer de novo para estar apto a adorar ao Senhor, porque Deus não é Deus de mortos, mas de vivos (Lucas 20:38). Antes de falar de adoração ao pecador, é necessário pregar sobre a necessidade de passar pela regeneração, pois somente os que passaram pelo novo nascimento estarão aptos a ofertar uma adoração espiritual.

Adorar em espírito é adorar a partir do coração, e não de aparência. Deus não está à procura de artistas, mas de adoradores. Se o seu coração é verdadeiramente convertido e voltado a Deus em sinceridade, saiba que você não precisará ir a lugares físicos, tais como montes, igrejas, campanhas e vigílias para buscar a Deus. É o próprio Deus que vai te procurar “(…) pois o Pai procura a tais que assim o adorem” (v.23). O mercado religioso sempre tentará te confundir dizendo que – para você encontrar a Deus – é necessário ir ali ou acolá, mas saiba que, quando há verdadeira adoração, é o Senhor que irá ao teu encontro, assim como Ele o fez com Maria, a mãe de Jesus (Lucas 1:26-31).

Adoração em verdade é uma adoração baseada na Palavra de Deus. Ela é a verdade revelada por Cristo. A liberdade que temos na adoração é aquela expressa nas Escrituras Sagradas. Você não tem liberdade criativa para inventar motivações para adoração. A razão pela qual adoramos ao único Deus é porque Ele nos amou primeiro, nos resgatando da maldição do pecado. Muitas pessoas adoram a partir de premissas falsas, por terem recebido benefícios de Deus (João 6:26). É uma adoração apenas de lábios, cujo coração está longe de Deus. Na sua maioria, são adorações apenas litúrgicas com regras vãs criadas por homens (Mateus 15:7-9).

A adoração “em verdade” é a adoração cujo foco é o logos, isto é, o verbo de Deus. Por isso que Paulo afirma que devemos prestar um culto racional. Esta palavra “racional” vem do grego logiken que é um adjetivo cognato do substantivo logos (Romanos 12:1). O Centro da adoração verdadeira, portanto, gravita na pessoa de Cristo. É o Espírito Santo que leva o crente a adorar a Cristo. Qualquer movimento dito espiritual que nos afasta de Cristo e das Escrituras não provém do Espírito Santo, porque este sempre testemunhará do Senhor Jesus:

Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. João 15:26

Portanto, adorar “em espírito e em verdade” tornou-se o novo paradigma de louvar a Deus. Não há mais necessidade de ritos intermináveis, liturgias pesarosas, novenas, campanhas, simpósios, montes sagrados, ou coisa do gênero. Deus apenas exige que você o adore o tempo todo de forma sincera. Além disso, a motivação da adoração deve estar calcada nas promessas da Palavra de Deus. O Todo-Poderoso simplificou toda parte cerimonial e litúrgica que havia na Velha Aliança, porém o homem ainda hoje tenta burocratizar a adoração verdadeira, impondo julgos e cerimônias insuportáveis. Saiba que Deus está a procurar corações sinceros que estejam aptos a ofertar um sacrifício de louvor vindo da alma. Se você é uma dessas pessoas, tenha certeza que Deus estará indo ao seu encontro.

Deus abençoe!
Me. Francirley Oliveira

Leituras sugeridas:

Campos Júnior, Amando a Deus no Mundo: Por uma cosmovisão reformada (Portuguese Edition) – Kindle.

Frame, A Doutrina da Vida Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2013.

 Hendriksen, Willian, João – 2ª edição. São Paulo: Cultura Cristã. .

Horton, O Cristão e a Cultura. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.

MacArthur, John F, A Essência da Verdadeira Adoração, São Paulo: Hagnos, 2018.

1 comentários em “A Verdadeira Adoração

  1. Ótimo artigo! Devemos aprender a adorar ao Senhor com as coisas simples, no trabalho, no amor ao próximo, sem ter idolatria quanto a lugares físicos, ou músicas que apelam ao emocional..

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