Deus e o Problema do Mal
O tema de hoje é, sem sobra de dúvidas, um dos mais espinhosos no meio teísta, e um dos mais evocados pelos ateístas quando se tentam refutar a existência de Deus. A dúvida recorrente entres os que negam a existência de Deus consiste na seguinte pergunta: Por que Deus sendo bom permite a presença do mal? Para muitos o fato de existir o mal entre nós já levaria à conclusão de que Deus não é onipotente, ou não é todo amoroso, já que estaria inerte perante o sofrimento dos inocentes sem que agisse para contê-lo.
O debate sobre justiça de Deus e os seus atributos morais é estudado tanto por filósofos quanto por teólogos. A área da filosofia que busca discutir uma resposta para a pergunta da razão pela qual Deus permite o mal é a Teodiceia, do grego theós (Deus) com dike (justiça). O dilema sobre o problema do mal foi sistematizado a partir da proposta apresentada pelo paradoxo do filósofo Epicuro (341-270 a.C.) que buscou, pela lógica, demonstrar a incompatibilidade dos atributos incomunicáveis de Deus (Onipotência e a Onisciência) coexistindo dentro da mesma realidade em um mundo com tanta maldade.
Conceituar ou delimitar o que significa o “mal”, talvez, seja a tarefa mais difícil para se compreender o paradoxo de Epicuro. De fato, o que se considera mal para um, pode não receber a mesma visão para outro. O conceito de mal, no senso comum, se delimita, muitas vezes, apenas a questões que envolvem o sofrimento humano, principalmente naquele advindo de catástrofes, de doenças e de fenômenos sociais. E sempre que surge uma crise – como a que estamos vivendo – o tema volta à baila.
O professor Luiz Sayão, no seu livro O Problema do Mal no Antigo Testamento o Caso de Habacuque, vai listar diferentes aspectos que devem ser avaliados quando se vai discutir a questão do mal. Conforme o autor apresenta, é preciso observar que há algumas dificuldades que o próprio conceito pode nos trazer. Por isso, antes de fechar qualquer questão a respeito do assunto, é preciso fazer uma delimitação a respeito do conceito do mal que, necessariamente, deve passar pelo crivo da subjetividade, do referencial e do fator tempo.
Quando fala da subjetividade, o professor quer demonstrar que há coisas que podem trazer bem-estar para algumas pessoas, porém para outras nem tanto. Ele cita o exemplo da comida que para uns pode trazer uma satisfação, outros, como alguns alérgicos, causa até a morte. Quanto ao critério de referencial do conceito, busca-se identificar a partir de que premissa se define o que é mal. Comer carne de animais é uma prática social muito comum entre os homens. Porém, abster de comer carne – para alguns naturalistas – se justifica por causa da defesa do direito à vida dos animais. Por outro lado, matar animais domésticos para se alimentar, como os cães e os gatos, é considerado – na maioria das civilizações – uma prática reprovada. Além disso, o fator temporal também interfere na concepção do conceito. No livro do Gênesis, por exemplo, o homem só foi comer carne após o dilúvio, talvez numa visão ética que seria inadequado matar os animais.
Por fim, para ficar apenas em algumas reflexões iniciais, é preciso entender que o termo mal é muito genérico e precisa ser devidamente estudado dentro de suas categorias. Em outros artigos, iremos abordar as categorias do mal que podem ser originadas por seres pessoais, por questões físicas e psicológicas, pelo meio natural e, sobretudo, o debate do assunto dentro do conceito metafísico. Este último cunhado pelo filósofo Leibnitz (1646-1716) é o que mais interessa na discursão teológica, pois seus ensaios foram o ponto de partida para a discussão da compatibilidade entre a justiça divina e o problema do mal .
Até mais…
Referência:
Sayão Luiz. O problema do mal no Antigo Testamento: o caso de Habacuque. São Paulo: Hagnos, 2012.
Muito boas as argumentações do artigo, pois somos parte do problema do mal presente no mundo, contudo mesmo enfrentando reveses devemos clamar pelo socorro divino, que por certo nos socorrerá, porque acredito que o justo viverá da fé.