Design Inteligente: panorama

A teoria do design inteligente defente que certas características do universo e de seres vivos são melhor explicadas por uma causa inteligente e não por um processo não direcionado tal como a seleção natural.

Fonte: https://www.discovery.org/id/faqs/, questão “What is the theory of intelligent design?” com tradução livre.

A definição acima foi retirada do site Discovery Institute, uma das referências no que tange ao design inteligente. Veja que a definição é abrangente em diversas áreas, inclusive há tentativas de explicação para a física / cosmologia, como aqui. Mas, o que é o design inteligente?

Antes, apenas alguns esclarecimentos com relação a nomeclatura que utilizarei aqui. Movimento do Design Inteligente (MDI), nesta abordagem que faço, é um grupo de pessoas (cristãos ou não) que advogam a ideia de que toda natureza / universo tem padrões que apontam para um projetista ou designer. Outro detalhe é concernente ao termo design / designer. Historicamente há algumas ideias ou modelos de design em diversas teologias naturais, por exemplo, em William Paley no seu livro Natural Theology de 1802. Neste livro, Paley discorre, já na primeira página, algumas características de um designer. Só que a relação entre o projetista (designer) desta ou daquela teologia natural é de forma secundária; claro que há o conceito de projeto no MDI mas não é, necessariamente, a mesma de Paley ou de outro teólogo.

O MDI teve uma grande propaganda, nas últimas décadas, depois do conhecido filme Judgment Day: Intelligent Design on Trial (Dia de Julgamento: Design Inteligente no Tribunal). Este documentário da NOVA / PBS acompanhou um processo judicial americano na cidade de Dover, Pensilvânia. Um documento que você pode ler está disponível aqui e entender os detalhes judiciais. De forma geral: o conselho escolar local colocou o ensino do design inteligente (DI) como uma forma alternativa à teoria da evolução. Alguns pais entraram com processo dizendo que esta determinação violava a Primeira Emenda da Constituição americana e o assunto foi a julgamento em 2004. Este e diversos outros aspectos históricos, bastante extenso, tratarei em outra oportunidade.

Diferente do que fiz nos textos anteriores, Criacionismo da Terra Jovem (CTJ) e Criacionismo da Terra Antiga (CTA), no MDI não há como trabalhar no tripé criação do céu e da Terra (cosmologia e geofísica), criação da vida e do homem (biologia) e dilúvio. Um dos motivos é o que o DI não tem uma estrutura própria como no CTJ ou CTA, ou seja, uma linha argumentativa e explicativa para essas áreas. O DI se acopla, de acordo com a cosmovisão de cada defensor, ao CTJ ou CTA. Mas, há algumas bases ou fundamentos que gostaria de citar para termos um panorama sobre essa visão.

O primeiro ponto é a questão do design inteligente. Essa argumentação significa que toda a criação (universo e, principalmente, a parte biológica) tem estruturas que só podem ser explicadas através de um projetista. Essa argumentação pode ser conectada ao tradicional argumento do design ou teleológico (de teleologia, ou seja, de propósito, de finalidade) de Tomás de Aquino. O teólogo do século XIII, claro, estava com a mente no Deus cristão quando desenvolveu sua obra Summa Theologiae (Suma Teológica, publicada em edição bilíngue, português e latim, pela editora Paulus). Em linhas gerais, é a ideia de que é possível ver pela criação, a partir da ordem, uma mente inteligente ou o projetista.

O outro ponto fundamental do DI é a questão da complexidade irredutível. De forma ampla é a ideia de que um sistema (principalmente biológico) é composto de várias partes que, se for tirado qualquer componente, a funcionalidade básica é perdida. Um exemplo clássico é o flagelo bacteriano: uma estrutura que possui algumas proteínas. Na interpretação do DI, caso seja retirado algum componente, perde-se a funcionalidade do flagelo.

Outro grande fundamento do DI é a sua crítica à teoria da evolução biológica. Aqui, é necessário esclarecer alguns pontos: quando nós, cientistas, nos referimos a teoria, não significa o mesmo termo que o senso comum utiliza (“tenho uma teoria que amanhã vai chover” ou “a minha teoria é assim”). Teoria, no contexto científico, é o mais alto grau de conhecimento em uma determinada área. Lei, por outro lado, é outra construção descritiva de fenômenos e não tem conexão com teoria: lei não é evolução de teoria e teoria não evolui para lei.

Voltando a teoria da evolução: atualmente, ela é uma construção de diversas partes, como seleção natural, microevolução, macroevolução, epigenética, mutação, genética etc. Ou seja, teoria da evolução não é só teoria de Darwin (apesar de também estar inclusa). E, como ela trabalha com probabilidades (dentro de mutação, genética, hereditariedade, seleção natural etc), para o DI, não é possível ter construções evolutivas para sistemas com complexidade irredutível, como é o caso do flagelo bacteriano.

Um último ponto que destacarei é a questão das evidências, ou seja, as “provas” que uma teoria científica deve apresentar para ser um modelo explicativo. Para o MDI, “as evidências estão em todos os lugares”, ou seja, o DI é aplicado em todas as áreas da ciência de forma irrestrita e o designer pode ser inferido ao ver sua assinatura na criação. Claro que, para o pessoal do MDI que é cristão, o projetista é o próprio Deus que, de alguma forma, deixou a Sua assinatura na natureza (assim como um artista assina a sua obra) e qualquer pessoa que fizer uma investida do tipo detetive consegue ter acesso a Ele.

Em resumo, o DI é uma alternativa, na visão do pessoal do MDI, à teoria da evolução. Dentro da visão cristão de criação, é um formato teleológico com profundas modificações argumentativas (como tentativas inserções científicas) e que se acopla, de acordo com o cristão, ao CTJ / CTA.


Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.

  • A origem: quatro visões cristãs sobre criação, evolução e design inteligente, de Ken Ham, Hugh Ross, Deborah Haarsma e Stephen Meyer. Editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência.
  • Dicionário de cristianismo e Ciência. Editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. É a melhor obra, atualmente, que trata do relacionamento entre o cristianismo e a ciência.
  • A caixa preta de Darwin, de Michael Behe. Editora Zahar. É o clássico livro de Behe onde aborda alguns pontos bioquímicos, complexidade irredutível e outras tentativas científicas ao DI.
  • Darwin no banco dos réus, de Phillip Johnson. Editora Cultura Cristã. Outro livro base para entendimento das ideias do DI
Dr. Alexandre Fernandes

Até a próxima!

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