Criacionismo da Terra Jovem: panorama


O tema de hoje é, talvez, o mais conhecido modelo que tenta integrar o texto bíblico e a ciência: Criacionismo da Terra Jovem (CTJ). É uma das formas mais antigas, historicamente, de se relacionar o que a Bíblia diz com processos naturais. Ao longo dos séculos a ciência avançou muito em direção a explicar fenômenos através de processos naturais. Enquanto não era conhecido as leis físicas e como elas funcionavam, entrava em cena a leitura mais literal ou “ao pé da letra” das Escrituras.

No último texto, falei sobre o Criacionismo da Terra Antiga (CTA). Algumas questões que cabem aqui também estão nele e apenas citarei rapidamente; você poderá conferir os detalhes melhor lá:

  • Criacionismo é a forma de ver todas as coisas a partir da perspectiva de que Deus criou tudo (dentro do cristianismo; outras religiões terão outras formas e ramos de criacionismo);
  • Há várias correntes de criacionismo, como o CTA (que falei na última coluna);
  • A Associação Brasileira de Cristãos na Ciência, ABC2, da qual faço parte, não toma posição oficial em relação a alguma visão cristã, conforme nosso estatuto.

E, assim como no CTA, darei um panorama na questão explicativa do CTJ em três áreas: criação do céu e da Terra (cosmologia e geofísica), criação da vida e do homem (biologia) e dilúvio. Para começar, o CTJ é um modelo mais simples de entender por causa de seu fundamento principal: leitura mais natural e direta do texto bíblico. Ou seja, para sabermos como Deus criou todas as coisas, basta ler a Bíblia de forma direta: criação do universo / Terra / vida / homem em 6 dias literais (de 24 horas) há 6 mil anos (aproximadamente) e os processos são exatamente os descritos na semana da criação de Gênesis. A idade de 6 mil anos é a partir dos trabalhos do bispo James Ussher que, em 1658, publicou o livro The Annals of the World, fazendo uma cronologia da Bíblia e chegando na data da criação de tudo: 23 de outubro de 4004 a.C. às 09:00. É necessário destacar que, assim como no CTA, há várias correntes dentro do CTJ com relação a idade (variando entre 6 a 12 mil anos) e outros detalhes como Imago Dei, dilúvio etc.

Uma forte crítica do CTJ é com relação a ciência atual, como ela é feita e trabalhada. Por exemplo, Ken Ham, um dos grandes especialistas e propagadores do CTJ no mundo, faz um apanhado, muito rápido, da história da ciência e aponta que ela está imersa dentro do relativismo da pós-modernidade. Com isso, não há verdades absolutas e a ciência sempre caminha para uma espécie de ateísmo: Deus não tem espaço no nosso mundo. E para suportar a literalidade (ou seja, a narrativa sendo puramente descritiva) de Gênesis, Ham faz uma distinção entre dois tipos de ciência.

Uma delas é a ciência experimental: observações, repetições de fenômenos etc. Para Ham, essa ciência experimental não explica a formação do Grand Canyon ou do planeta Saturno, a existência da vida na Terra e nem a formação do universo: não há como replicar estes mesmos objetos / fenômenos em um laboratório. Já a outra é a ciência histórica: geologia, paleontologia, arqueologia e cosmologia. Ham vai descrever que as evidências que há nestas áreas são as mesmas para qualquer cientista, mas a interpretação pode ser diferente, ou seja, vai depender da leitura que este ou aquele cientista faz com relação a Deus e a Sua criação.

Indo para as três áreas que citei acima e que colocarei o CTJ para responder, de forma panorâmica, o funcionamento. Começando com a cosmologia e geofísica, a questão é bem simples: Deus criou o universo, as galáxias, as estrelas, os planetas e a Terra de forma instantânea (em um processo de ação divina milagrosa). Isso aconteceu entre 6 e 12 mil anos (lembre-se que pode haver outras correntes dentro do CTJ) e o processo físico de criação é exata e explicitamente como está em Gn 1: Deus criou tudo ao longo de 6 dias de 24 horas / cada. E isso vale para a parte biológica: os seres vivos apareceram, de forma instantânea e milagrosa, como é descrito no texto bíblico. Apenas um resumo, a partir do texto de Gn 1 e 2:

  • Dia 1: Criação do universo, da Terra, da luz e separação, desta última, das trevas;
  • Dia 2: Criação da expansão (entre o céu e a superfície terrestre) no meio das águas, separação de várias “águas” (mares, oceanos e rios);
  • Dia 3: Ajuntamento de águas e aparecimento da porção seca. Configuração final para mares, oceanos e rios. Terra produzindo plantas;
  • Dia 4: Criação do Sol, da Lua e das estrelas;
  • Dia 5: Produção, das águas, de animais. Criação de animais que voam;
  • Dia 6: Produção, da terra, de animais. Criação do homem (do barro), da mulher (utilizando-se da costela de Adão). Criação do jardim do Éden pelo próprio Deus. Tentação do homem e sua queda e expulsão do Éden
  • Dia 7: Deus descansa

Com relação ao dilúvio, não há grandes questões a serem resolvidas aqui: narrativa é descritiva de um acontecimento real, com Noé, arca, animais, chuva de 40 dias, retorno de 8 pessoas e repovoamento da Terra. As águas do dilúvio atingiram todo o planeta (global) eliminando toda a vida animal terrestre.

Em resumo: a visão cristã do CTJ faz a leitura da Bíblia da forma mais natural, literal e clara possível. Isso inclui retirar informações científicas a partir da leitura do texto bíblico. Com isso é bastante óbvio que há negação da teoria da evolução das espécies (não a de Darwin, mas a que utilizamos hoje) e da teoria do Big Bang e todas as conexões que trabalhamos com cosmologia, astronomia e astrofísica. Um fator último que quero destacar é o fervor que os proponentes do CTJ tem com relação à Palavra de Deus: a defesa é tal que chegam a tirar da própria revelação especial todo o contexto e ferramenta científica para ler o mundo.


Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.

  • A origem: quatro visões cristãs sobre criação, evolução e design inteligente, de Ken Ham, Hugh Ross, Deborah Haarsma e Stephen Meyer. Editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência.
  • Dicionário de cristianismo e Ciência. Editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência. É a melhor obra, atualmente, que trata do relacionamento entre o cristianismo e a ciência.
  • Criacionismo: verdade ou mito?, de Ken Ham. Editora CPAD.
Dr. Alexandre Fernandes

Até a próxima!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *