Apocalipse moderno: sinais no céu
E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.
Lucas 21:25
No momento que escrevo esta coluna ainda estamos passando pela pandemia (principalmente onde moro, na região do Planalto Central) da gripe chinesa que teve seu início por volta de fevereiro / março de 2020. A quarentena, que dura meses, tem provocado uma diminuição drástica no movimento dos transportes, muitos trabalhos se adaptaram ao esquema de home office, escolas fecharam e as crianças estao confinadas em suas casas. Além disso, problemas de saúde mental se agravaram e, possivelmente, aumentaram o número de casos como é noticiado no mês de setembro pelo Correio Braziliense (jornal do DF) e pelo jornal Estado da Bahia. Mas, o assunto desta coluna não é saúde mental ou gripe chinesa; é mais uma desmistificação do Apocalipse Moderno como tenho mostrado em outras colunas.
A contextualização do momento histórico do qual estou escrevendo é que nos meses de abril e maio, bem no meio da pandemia, aconteceram alguns fenômenos interessantes e que tem intrigado muitas pessoas. Aliás, esses fenômenos têm acontecido sempre, mas por falta de informação, diversas pessoas têm ficado apreensivas e assustadas. Uma parte desses sustos por eventos naturais ou simples decorre do estado físico comportamental das pessoas na pandemia: confinamento, medo exacerbado devido a nova doença, falta de empregabilidade, ansiedade, preocupações e mente a mil por hora. E tudo isso desemboca, devido a mente estar mais agitada, a prestar mais atenção a sons e observar mais o céu (que, tirando a sazonalidade da poluição de queimadas, tem ficado mais limpo). Como a maioria da população não é acostumada a se atendar aos barulhos naturais ou a fenômenos celestes, qualquer “sinal no Sol ou na Lua” já é caso de estado de assombro.
Um desses fenômenos, barulhos estranhos no céu registrados em diversas cidades pelo mundo, chegou a entrar nos trending topics (assuntos mais comentados por um determinado período de tempo) no Twitter em abril e maio. Claro que os tweets trouxeram, neste momento específico, muitas notícias sobre barulhos de outras épocas (meses e anos anteriores). A descrição do fenômeno é simples: barulhos no céu com sons são diversos (em várias frequências, desde grave a perto de agudas). Um relato análogo a esses barulhos foi o que presenciei tempos depois (possivelmente em maio; não anotei a data exata). O tempo estava fechado, com cara de chuva, nuvens espessas e densas. De repente, comecei a ouvir, por muito tempo (quase 10 minutos) barulhos, sem parar.
E o que são esses barulhos? As fontes são as mais diversas: montagem de vídeo para a internet (é muito comum), vulcanismo (as “trovoadas”, que são os barulhos resultantes dos raios, podem soar na atmosfera por centenas de km), trovões espessados, gases que sobem da Terra, movimentação da atmosfera terrestre (que é composta por vários gases em uma coluna de dezenas de km de altura), estouros de estações de energia (hidrelétrica, termoelétrica ou nuclear) e outros mais. A lista é gigante, incluindo ações naturais e humanas (indústrias e fábricas). A descrição que presenciei e relatei acima, nada mais é do que uma belíssima convergência de massas de ar quente e fria que se formaram por aqui, provocando barulhos muito interessantes por longo tempo. O SpaceToday fez um texto no blog com vídeo e diversos links com muito mais exemplos desse tipo.
Outro “sinal” que chama muita a atenção são os fenômenos luminosos. A lista para as fontes desses eventos luminosos é outra sem fim: satélites (voando ou caindo), aviões comerciais e militares, balões de pesquisa ou de outros tipos, ISS (estação espacial internacional), meteoritos ou chuva de meteoros, passagem de cometa, foguetes de lançamento (da SpaceX ou qualquer outra agência espacial pelo mundo), “trem de satélites” da SpaceX (Starlink) ou até mesmo OVNI.
Calma! Muita calma nessa hora! OVNI é apenas a sigla para Objeto Voador Não identificado. Traduzindo: é apenas um fenômeno ou algum objeto que fez algum tipo de rastro ou emitiu algum tipo de luz e o observador não sabe o que é. Só isso e mais nada.
Outro exemplo particular: tenho um telescópio refrator, simples, 90 x 900 mm (90 mm de abertura e 900 mm de tubo) que utilizo para fazer observações simples do quintal de casa. Como sou apenas um observador caseiro (nem amador chego a ser) do céu, vejo diversos fenômenos no céu que não sei o que são e coloco todos como OVNIs. Podem ser um “trem de satélites”, satélites individuais, meteoritos, teste militar de algum protótipo voador ou, sendo muito otimista, até um fenômeno astronômico interessante e que simplesmente não sei ou não consegui (claro que não fico cego ou aficionado para pesquisar o que é, momentaneamente).
Esses fenômenos luminosos e sonoros têm ficado mais frequentes? Talvez sim, no caso de satélites e foguetes. Só que esse aumento não é proporcional a percepção das pessoas: aqui entra o efeito da pandemia no quesito de prestar mais atenção ao céu e a sons, incluindo a apreensão, medo etc da propagação da doença. Ou seja, por estarmos confinados e com os ânimos abalados, em maior ou menor grau, estamos prestando mais atenção ao nosso redor, ao céu e a barulhos. Um clássico exemplo: vá assistir a um filme de suspense, a noite; se uma agulha cair ao seu lado é muito provável que você ouça um “alto barulho” e ainda se assuste.
Como citei acima, as fontes para esses fenômenos sonoros e luminosos são diversos, mas todos são do nosso quintal, todos naturais ou provocados por nossas tecnologias. Nenhum desses fenômenos são trombetas do apocalipse, volta de Cristo, sinais dos últimos dias, ataque alien, visita de ETs, discos voadores, portais interdimensionais conectando universos se abriram ou qualquer outra maluquice do mesmo naipe. A razão por não ser fenômenos descritos no livro de Apocalipse: basta fazer uma simples exegese e ver que aqueles eventos não são históricos ou literais. E a outra razão por não ser civilização extraterrestre darei na próxima coluna onde vou descrever um pouco sobre a vida fora da Terra, onde ela está, como ela é e como teremos contato com ela.
E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus,
A qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates.
E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano, a fim de matarem a terça parte dos homens.
Apocalipse 9:13 – 15
Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.
Sugestão de leitura
- Livro Astronomia e astrofísica, por S. O. Kepler e Maria de Fátima Saraiva. Este livro é disponibilizado no próprio site dos autores, que são professores da UFRGS. É um excelente material de consulta: http://astro.if.ufrgs.br/livro.pdf