Apocalipse moderno: sem escudo espacial?

E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.

Mt 24:29

No último texto falei sobre o campo magnético da Terra. Sua origem está no interior da Terra através do movimento de cargas elétricas que geram todo o escudo. O modelo que trata deste fenômeno é o do dínamo e as equações são as do MHD: magnetohidrodinâmica. Também mencionei sobre um fenômeno que hoje quero descrever mais, que é o vento solar. Além dele, há um outro evento interessante: mudança dos polos magnéticos.

A Terra, pelo modelo que se trabalha em geofísica atualmente, é um grande dínamo, um grande imã, que tem polaridade: polo norte magnético e polo sul magnético. Detalhe: uma coisa é polo norte magnético e outra é polo norte geográfico; uma coisa é polo sul magnético e outra é polo sul geográfico. Associando com as posições geográficas: o polo norte magnético está apontado para o polo sul geográfico; de forma complementar, o polo sul magnético está apontado para o polo norte geográfico.

Outro detalhe é a inclinação do eixo principal do campo magnético. Veja a figura acima: observe que as linhas de campo magnético estão saindo de baixo (polo sul geográfico) e entrando por cima (polo norte geográfico. O eixo principal é o grande imã. Detalhe: cima, baixo, entra, sai e geográficos são convenções físicas para referenciais e estudos. Agora, compare com esta próxima figura representativa:

Mas, não é apenas a Terra que tem campo magnético: todo e qualquer corpo que tem movimento de cargas elétricas tem indução de campo magnético. Ou seja, o Sol também tem um gigantesco campo magnético (sua composição e sua história será tema de outra coluna futura). Magnetar e estrelas de nêutrons são objetos que também possuem campos magnéticos análogos ao Sol.

Linhas de campo magnético do Sol.
Fonte: https://www.jpl.nasa.gov/spaceimages/details.php?id=PIA22662

Outro objeto astronômico com campo magnético é o quasar (é um fenômeno): um buraco negro supermassivo que fica no interior de galáxias e que, através do seu disco de acreção, emitem radiação (raios X, gama etc).

Veja a figura acima. O disco de acreção é um material, extremamente quente (da ordem de milhões de graus Celsius; a superfície do Sol não chega a 6 mil graus Celsius), composto por muitas cargas elétricas que estão se movendo (rotacionando o ponto preto, que é o buraco negro). Movimento de cargas elétricas: geração de campo magnético. As linhas saem do disco de acreção em conjunto com um plasma quente e radiação.

Voltando ao Sol. Um fenômeno que ocorre, vindo do astro rei, é a emissão de partículas ionizadas: vento solar. Claro que não há ar ou atmosfera no Sol ou no espaço mas tem esse fluxo que não é contínuo: há épocas que são mais intensas. E essa atividade está relacionada, em certo grau, com o que acontece no seu campo magnético. Por ser um astro muito maior do que a Terra e estando a uma distância, astronomicamente perto, qualquer atividade magnética influencia diretamente nossa atmosfera. A interação entre os ventos solares (não confundir com vento aqui) e parte superior da atmosfera terrestre produz um fenômeno muito bonito, no hemisfério norte, de se observar: auroras boreais.

Aurora vista da Estação Espacial Internacional em 17 de setembro de 2011 na região do oceano Índico.
Fonte: https://www.nasa.gov/mission_pages/sunearth/news/gallery/20110917-iss-aurora.html

E a interação entre essas partículas ionizadas do vento solar com o campo magnético da Terra forma o cinturão de Van Allen que mencionei no texto anterior.

Representação do cinturão de Van Allen (em roxo e branco).
Fonte: https://www.nasa.gov/mission_pages/rbsp/multimedia/rbsp-image.html

Até agora mencionei apenas o mecanismo de funcionamento destes fenômenos. E o caos, e o apocalipse, e o fim do mundo?! Primeiramente, indo para a questão do campo magnético terrestre. Há alguns dados mostrando que ele vem sendo modificado: deslocamento dos polos magnéticos e que pode gerar, em algum momento, inversão dos polos da atual posição. Houve uma publicação na Nature Geoscience mostrando deslocamentos (medida em campo):. Essas inversões têm sido modeladas e indicam que já aconteceu diversas vezes e segue uma média de 250 mil anos cada mudança. A última ocorreu há 780 mil anos. Mas isso não indica, necessariamente, que deve acontecer agora.

Movimento do polo magnético de acordo com os modelos feitos a partir de medidas por várias décadas.
Fonte: https://phys.org/news/2020-05-explanation-earth-north-magnetic-pole.html

E o que pode acontecer, caso haja essa reversão (seja em poucos ou milhões de anos à frente)? A princípio, não haveria impacto direto na vida terrestre. Não há observações paleontológicas ou arqueológicas de que houve algum dano a vida por aqui. Por outro lado, o campo magnético protege o planeta de ventos solares (as partículas ionizadas altamente energéticas vindas do Sol); por isso vemos imagens das auroras. Não sabemos se na transição da inversão, há enfraquecimento a ponto de perdermos esta proteção. Um outro ponto é a questão de navegação que, até o momento, é guiada pelo campo magnético e sua polaridade.

Um outro problema associado que pode estar (ou não!) associado a inversão dos polos magnéticos é o enfraquecimento do campo magnético. Por exemplo, há um fenômeno conhecido como Anomalia do Atlântico Sul. O campo magnético terrestre não é todo certinho, homogêneo: há áreas com maior ou menor intensidade.

T é a unidade de medida do campo magnético. Microtesla (μT) é a unidade utilizada para a Terra que equivale a 10-6 T.
Fonte: http://portal-antigo.aeb.gov.br/campo-magnetico-da-terra-enfraqueceu-sobre-o-brasil/

Tanto a inversão dos polos magnéticos quanto o enfraquecimento (e o fenômeno de anomalia Atlântico Sul) são objetos de estudos. Há décadas que a intensidade do campo magnético da Terra vem sendo medida e, com isso, diversos mapas têm sido produzidos e, claro, hipóteses e modelos são propostos com intuito de prever algum comportamento futuro. Não se sabe o que causa estes fenômenos e a sua origem ainda é debatida. Por outro lado, pesquisas médicas têm sido realizadas com relação a saúde da vida terrestre frente a radiação natural (intensidade, tempo de exposição etc). A radiação e o vento solar têm efeitos sobre a vida e nosso comportamento com a tecnologia, mas não há relação completamente compreendida com o campo magnético terrestre.

Disse muita coisa, mas e o apocalipse?! Parece que não será desta vez. Mesmo com tantas incertezas com relação ao futuro e a falta de evidencias do passado se há (ou não) malefícios, destruições em massa ou fim da vida na Terra devido ao enfraquecimento (momentâneo?) e a inversão dos polos magnéticos, uma coisa é certa e já foi deixada pelo evangelista Mateus: as palavras do nosso Senhor Jesus (que nem conhecimento de geofísica tinha!).

Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?

E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;

E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.

Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?

Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?

Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas;

Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

Mateus 6:26 – 33

Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.

Sugestão de leitura

Dr. Alexandre Fernandes

Até a próxima!

Imagem de destaque: aurora boreal vista na Noruega no dia 8 de fevereiro de 2014. Quanto maior a atividade solar (ventos solares), mais intenso é esse fenômeno que dura alguns minutos.
Fonte: https://apod.nasa.gov/apod/ap150504.html

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