Apocalipse moderno: os aliens não estão vindo agora

O aspecto das rodas, e a obra delas, era como a cor de berilo; e as quatro tinham uma mesma semelhança; e o seu aspecto, e a sua obra, era como se estivera uma roda no meio de outra roda.

Ezequiel 1:16

O tema da coluna de hoje é, literalmente, de outro mundo. O assunto é muito amplo, rende séries de artigos, mas quero fazer algo um pouco mais disperso porque não tenho por objetivo desenrolar assuntos sobre biologia e, muito menos, astrobiologia, pois isso denotaria muito texto técnico. Por outro lado, tem aparecido muito na mídia, principalmente internacional, esse tema e vejo que é uma necessidade tratarmos de alguns pontos em conexão com o texto bíblico. Isso sem contar as exegeses que são feitas em nosso meio cristão que forçam o texto para um caminho do qual ele nunca teve intenção. E toda essa temática tem diversos substantivos: extraterrestres, aliens, ETs, homenzinhos verdes, marcianos, pessoas de outros mundos, astronautas do passado, viajantes espaciais ou deuses astronautas. Qualquer um desses (ou outros) termos é facilmente encontrado na mídia ou em textos sensacionalistas, místicos ou simplesmente malucos. Minha intenção aqui é separar o que é presta, o que não presta, o que podemos prender nossa atenção e o que podemos pesquisar como cientista ou cristão.

Começando do começo. No momento que escrevo essa coluna (final de junho/2021) não temos evidências de vida fora da Terra. Isso significa, literalmente, que não sabemos da existência de qualquer tipo de ser biológico fora da estrutura terrestre. Está incluso, como vida: microrganismos de qualquer tamanho, plantas, animais ou qualquer outro tipo de vida baseado em carbono ou algum outro tipo de padrão que nós podemos reconhecer. É complicado definirmos vida porque só conhecemos a terrestre e, a sua quase totalidade, é baseada em alguns átomos com a centralidade em carbono, ou seja, praticamente toda a nossa vida tem ligações com carbono. Inclusive, há uma área da química, química orgânica, que foi desenvolvida, inicialmente, por causa desse pensamento de vida terrestre. As pesquisas mais atuais estão indo em direção a um tipo de vida que pode ter outra centralidade, como enxofre, mas também são observações terrestres.

Isso não significa que não estamos procurando vida em nosso quintal (sistema solar). Neste exato momento em que escrevo há várias missões em Marte em busca de vestígios antigos de vida. Antigos porque não temos nada vivo lá agora. Missões como: MAVEN (Mars Amosphere and Volatile Evolution – pesquisa sobre a atmosfera e a possibilidade de vida com esse tipo de configuração. Vide mais em https://www.nasa.gov/sites/default/files/files/MAVENFactSheet_Final20130610.pdf), Curiosity (pesquisa sobre a possibilidade de ter vida em Marte com a presença de água, no passado ou atualmente) e a Mars 2020 Perseverance (pesquisa sobre a possibilidade de sinais e condições potencialmente favoráveis à vida e se existiu, através de indícios ou “fósseis”, vida no passado), dentre outras. Além do planeta vermelho temos missões em desenvolvimento para Vênus: Venus Express (ESA – Agência Espacial Europeia, que estuda a dinâmica e a química e suas interações com a atmosfera) e outras 3 aprovadas e em desenvolvimento para o futuro, com relações entre a NASA e a ESA, dentre outras. Eu poderia dar páginas e páginas de descrições de missões, do passado, do presente e em desenvolvimento, de pesquisas para encontrar vida aqui no sistema solar e extrapolar tudo isso para o universo todo (como as áreas de astrobiologia e exoplanetas). Mas, só com esse material que citei e deixei os links você pode ler e ter muita informação atual. Apesar de todos os nossos esforços, ainda não encontramos vida (qualquer que seja a definição) fora da Terra e nem indício dela no passado em qualquer lugar.

Então podemos encerrar por aqui: não temos indícios de vida fora da Terra (nem hoje e nem no passado); até poderíamos se não fosse algumas histerias. E é aqui onde a nossa exploração (não de vida, mas quase que psicológica) começa. Vou iniciar por um documento que foi publicado pelo governo americano no dia 25 de junho de 2021 e está disponível, livremente, no site do Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (Office of the Director of National Intelligence – DNI), que é um órgão do estatal para cuidar da segurança nacional de todo o espectro. Você pode ler todos os detalhes do DNI, incluindo sua história, em seu site https://www.dni.gov/. O relatório que quero te apresentar é o Preliminary Assessment: Undentified Aerial Phenomena, que está disponível no site do DNI https://www.dni.gov/files/ODNI/documents/assessments/Prelimary-Assessment-UAP-20210625.pdf. O SpaceToday fez um vídeo muito bom sobre esse relatório e você pode acompanhar aqui. Aliás, tudo do SpaceToday recomendo: ele é uma espécie de jornal diário da astronomia e astronáutica com tudo o que é de pesquisa atual.

Antes de ir ao relatório, um contexto histórico. Em julho de 1947 houve um incidente perto da cidade de Roswell, Novo México (EUA). Esse incidente não foi visto, diretamente, por pessoas no local porque a força aérea americana (FA) tomou conta do local e, por se tratar de assunto militar, não há informações completamente livres para qualquer pessoa. Só que isso alimentou um monte de teorias de conspiração, imaginário popular etc: a ideia é que caiu, nesse local, um disco voador. Pronto, Hollywood teria (e ainda tem) material e ideia para explorar em seus filmes por décadas. Só que antes de 1947 esse imaginário de aliens (ou qualquer outro nome que você desejar) já era muito alimentado. Na segunda metade do séc. XIX Schiaparelli (que foi homenageado em missões na NASA) fez descobertas, com seu telescópio, de canais (um problema na tradução da palavra canali para o inglês; mas o estrago já estava feito) ou algo como “estradas” em Marte. No séc. XX a literatura de H. G. Wells e até novelas na rádio BBC inglesa só aumentou esse imaginário. Com o evento de Roswell parece que vivemos em uma espécie de espera alienígena ou um ataque direto. Nos últimos anos o cinema tem alimentado esse imaginário com filmes do tipo Independence Day, que são peças visuais onde mostram a ação americana em defender a Terra de um ataque alien no dia 4 de julho (aniversário de independência dos EUA).

Voltando ao relatório. O que ele mostra são incidentes ocorridos entre novembro de 2004 e março de 2021. Esses incidentes são dos mais diversos, como avistamentos de objetos ou fenômenos. E aqui já cabe uma atualização de termos. Antes, chamávamos de OVNI (expressão em português da palavra UFO – Unidentified Flying Object): Objeto Voador Não Identificado. No relatório, a nomenclatura é UAP – Unidentified Aerial Phenomea ou, em português, FANI – Fenômeno Aéreo Não Identificado. Essa mudança de nomenclatura, acredito eu, é para abarcar não só objetos, mas também fenômenos atmosféricos (sim, eles também podem ser de natureza desconhecida e serem confundidos com “ataques aliens”). No período que o relatório abarca foram registrados 144 de fontes do USG – U. S. U. S. Government, que inclui treinamentos e pesquisas militares (obviamente, nenhuma com divulgação completa para o público civil). Dessas 144, 80 foram observações com múltiplos sensores. Isso significa que o treinamento ou a pesquisa militar tinha uma determinada missão ou objetivo e que, no meio da execução, apareceu esse incidente, quase que uma “colisão” de objetivos. Com isso, não é possível determinar, exatamente, o que foi o incidente por causa do objetivo final. Exemplificando: há um exercício militar com aviões de caça em uma determinada região para manobras de fuga. Durante esse exercício, uma pesquisa com drones é feita perto da região. No exercício militar os pilotos não estão com target (missão ou objetivo) de ver drones, mas eles detectam visualmente e através de radar. Esse tipo de avistamento vai para o relatório do exercício. Oficialmente, esse cruzamento de missões não deveria ser feito, mas como se trata de áreas militares, nem mesmo entre os soldados é passado toda a informação, apenas do seu próprio target.

O relatório ainda continua dizendo que há 18 incidentes que tem características de voo. E aqui pode entrar qualquer coisa: pesquisas militares dos EUA ou algum tipo de tecnologia militar de outro país. Inclusive, no próprio relatório há uma menção explicita de que há pesquisas em andamento para determinar o que são essas tecnologias.

Há um outro ponto, uma atualização de classificação, que queria destacar. Os FANIs, de acordo com o relatório, estão separados em 4 categorias (farei uma tradução livre):

  • Desordem em aerotransporte: objetos não tripulados, pássaros, balões, drones, detritos de objetos aerotransportados etc;
  • Fenômenos atmosféricos naturais: a lista é grande. Entram cristais de gelo, flutuações térmicas (miragens que a gente vê em asfalto; algo análogo acontece no espaço), fenômenos de descargas elétricas diversas na atmosfera etc;
  • Desenvolvimento de indústria militar americana: tecnologia militar das mais diversas; claro que, por estarem em desenvolvimento e se tratar de segurança nacional, não são especificados os detalhes;
  • Sistemas adversários estrangeiros: tecnologia militar de outros países, como Rússia e China;
  • Outro: essa categoria abarca tudo o que não pode ser colocado nas outras e que ainda estão em análise.

Os ETs, se estivessem comunicando conosco, entraria na última categoria. “Então pronto! Está provado que há vida inteligente e que estamos sendo espionados para um futuro ataque alienígena!”. Para a tristeza de alguns (e para a nossa alegria), não: não saber sobre algo não é passe livre ou comprovação de que seremos abduzidos por alguma civilização extragaláctica. Inclusive, o relatório do DNI não cita, em momento algum, a possibilidade, mesmo que a mais remota, de algum tipo de contato alien. Para os ufólogos e os crentes em outras raças fora da Terra, isso foi um verdadeiro balde de água fria. Porque nos últimos anos da década de 2010 tem aparecido muitos vídeos, divulgados pela mídia internacional, de pilotos tentando fazer contado com objetos esquisitos, fazendo manobras aeronáuticas que, inicialmente, seriam incompatíveis com qualquer tipo de tecnologia aeroespacial conhecido. E, como gatilho, a maioria desses vídeos são reais e aprovados pelas forças militares américas (reais = vídeos sem montagem).

Em resumo: o relatório publicado pelo DNI no final do mês de junho de 2021 não deixa brechas ou conhecimento oculto orquestrado pelas grandes potencias de algum tipo de contato, invasão ou dominação dos ETs em nosso planeta.  Podemos ir dormir tranquilo em casa porque não haverá abdução, “revelamentos” gnósticos ou roubo de animais. Ah, caso você more em alguma chácara / sítio, não se preocupe se aparecer alguma figura feita na plantação, pois é alguém tentando pregar alguma peça em você.

Tudo muito bonito, não temos evidências de uma invasão (só próxima?) de aliens, mas e a Bíblia? Onde ela entra em tudo isso? A Bíblia faz exatamente o que ela sempre fez: comunica, de forma global, a Palavra de Deus. Ela não faz revelações, não introduz conhecimentos novos e muito menos explica ciência (dos nossos dias); mais ainda: nem cita planetas como conhecemos. Então, infelizmente (ou felizmente?) não teremos visitantes ilustres no 04 de julho de 2021; apenas nos filmes.

E, andando eles, ouvi o ruído das suas asas, como o ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente, um tumulto como o estrépito de um exército; parando eles, abaixavam as suas asas.

Ezequiel 1:24

Ficou em dúvida, quer perguntar algo ou fazer alguma crítica / sugestão? Deixe nos comentários abaixo e terei o prazer em te responder aqui ou em algum artigo específico.

Sugestão de leitura

  • O melhor material, em português, no assunto entre ciência e fé cristã é o Dicionário de cristianismo e ciência, editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência;
  • No site da ABC² há muito material (artigos e vídeos no YouTube) sobre o relacionamento entre ciência e fé cristã: http://cristaosnaciencia.org.br/.
Dr. Alexandre Fernandes

Até a próxima!

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