Apocalipse moderno: abalando o fim do mundo

Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.

Mt 24:7

No texto introdutório ao caos começamos a falar do fim dos tempos, do apocalipse, da destruição total! É, não foi bem assim: o que comecei introduzindo foi a citação de alguns fenômenos naturais que são interpretados como fim de tudo. Já no texto sobre a formação da Terra delineei como o nosso pálido ponto azul foi formado há mais de 4,5 bilhões anos. Hoje o meu foco será em um fenômeno natural e antigo, mas que diversos povos antigos, inclusive o verso bíblico acima, dava um caráter sobrenatural ou uma ação direta da divindade: terremoto e maremoto / tsunami.

Começando com a ação de Deus. Como cristão, é tão claro e natural ver o Criador como o responsável de todo o universo que não há o que discutir neste ponto. E isso é límpido quando leio as Escrituras ou observo as estrelas e estudo Física. Este é o tradicional exemplo dos dois livros escritos e revelados por Deus: a Bíblia (revelação especial) e a natureza (revelação geral). O que precisamos para estudar a natureza / revelação geral: ciência, métodos científicos, equações, observações, experimentos, modelos e todo arcabouço que qualquer outra área científica necessite ou utilize em suas teorias. Por outro lado, o que precisamos para entender as sagradas Escrituras / revelação especial: exegese, hermenêutica e toda a carga de pesquisa que qualquer outra área teológica precise.

Com isso em mente e estudando outras culturas, por exemplo as do Antigo Oriente Próximo (povos ao redor de Israel, como cananeus, egípcios, babilônicos, sumérios etc), interpreto que as ações de Deus na criação se dá por meio das leis na natureza (intercambio, de forma geral, como leis físicas) que Ele mesmo criou. Já os povos do AOP (Antigo Oriente Próximo) interpretavam os fenômenos naturais como ação em si ou até parte corporal de seus deuses.

Por exemplo, quando o Sol brilha, os povos do AOP podem ler que seus deuses estão brilhando ou que seus deuses estão fazendo o brilho espalhar na Terra. Eu já vejo como consequência de processos de fusão nuclear (no Sol), emissão e chegada de fótons na Terra e, tudo isso acontecendo, devido as leis físicas bem conhecidas mas criadas por Deus, finamente ajustadas no nosso planeta com sustentação de Seu poder permitindo a continuação de tudo. Veja que, se a gente observar um dado fenômeno entendendo seus processos físicos e compreendermos o sentido, sua importância e seu objetivo (dados por Deus na criação), há uma ampliação maior do nosso conhecimento e, inclusive, uma relação mais intensa de adoração por parte de um observador da natureza:

Quão grandes são, Senhor, as tuas obras! Mui profundos são os teus pensamentos.

Salmos 92:5

Há muito mais detalhes a se discutir, inclusive questões sobrenaturais e milagres, mas será descrito em outra oportunidade. Nas recomendações de leitura deixarei alguns bons textos sobre essas culturas antigas, suas relações com Israel e, assim, o seu conteúdo exegético será aumentado quando for entender as letras sagradas.

Voltando ao caso proposto para hoje, que é terremoto e maremoto / tsunami. Esses fenômenos estão associados a dinâmica da crosta terrestre que tem, aproximadamente, 70 km de espessura. Mas, como destaquei no texto sobre a formação da terra, a superfície terrestre está mais para uma casca de ovo quebradinha, cheia de placas tectônicas (as casquinhas) e que ficam se movendo em uma espécie de “mar” extremamente quente, denso e com alta pressão (as camadas internas do planeta):

Observe que essas placas, em cima do magma e outras camadas internas da Terra, se movimentam. E esses movimentos podem ser diversos:

Veja que isso acontece no continente (terra firme) e nas áreas aquáticas (oceanos, mares etc). E esses movimentos, tanto em terra quanto nos oceanos, podem provocar os terremotos e os maremotos / tsunamis. A diferença entre maremoto e tsunami é mais nas palavras: veja aqui e aqui, dois textos do prof. Lang sobre esse detalhe.

Agora, vou dar um zoom em uma parte específica (que pode ser tanto em continente quanto debaixo de água): vulcão.

Fonte: https://midia.atp.usp.br/impressos/lic/modulo02/geologia_PLC0011/geologia_top04.pdf

O próximo mapa mostra onde estão os vulcões ativos e a dinâmica das placas tectônicas:

Fonte: https://midia.atp.usp.br/impressos/lic/modulo02/geologia_PLC0011/geologia_top04.pdf

Toda essa movimentação e evolução acontece desde a formação do nosso planeta. Sendo mais específico: quando ele começou a se esfriar, formando a crosta terrestre.

Em resumo: a Terra estava em formação, alta temperatura e pressão. Ao passar do tempo a crosta foi se formando, esfriando a superfície, mas as camadas internas ainda continuam líquidas. Como as placas foram se formando em tempos diferentes devido as suas características locais, ainda continuam em movimento. E esses movimentos provocam os terremotos e maremotos. Algumas regiões têm brechas e buracos mais pontuais por onde pode ter a derrama de rochas (larvas de vulcões).

A geofísica tem uma carga muito grande de pesquisa, tanto teórica quanto experimental, para trazer mais informações, tanto locais quanto globais, afim de ajudar a minimizar diversos problemas que esses fenômenos, naturais, pode ocasionar. Por exemplo, ondas sísmicas em locais muito povoados e com forte intensidade pode provocar destruição patrimonial e ceifar vidas. Se elas ocorrerem debaixo de água (maremoto), igual forma. Inclusive, em 2004 houve um maremoto com efeitos destrutivos e quase 300 mil pessoas (valor incalculável) perderam suas vidas.

Agora, vamos voltar ao início deste texto. Deus é o Criador e o Sustentador de toda a natureza. Povos antigos (e até de outras religiões atuais) veem os fenômenos naturais como ações ou até parte corporal de deuses. Uma forma de entender esse aparente paradoxo, ação de Deus e fenômeno natural, é entender exatamente a posição do Criador como Ele é. Em outras palavras, Deus é o Supremo do universo, criou todas as leis físicas da forma como a ciência vai descobrindo (ela nunca chega ao fim) e aquilo que chamamos de fenômenos naturais são efeitos decorrentes das leis físicas vindas do Criador.

Eu não vejo esses fenômenos como ruins em si. É óbvio que a consequência de tais fenômenos na vida humana é desastrosa dada a nossa relação dentro da natureza. Por exemplo, dinossauros serem extintos é bom ou ruim? Se eles não tivessem sido extintos, muito provavelmente a evolução dos mamíferos, incluindo a nossa, seria completamente diferente (se é que nós estaríamos aqui). Um leão se alimentar de uma zebra, naquele cenário violento, é bom ou ruim? Se ele não matar e comer, morre de fome. Um evento de supernova (quando uma estrela explode) joga radiação e detritos em locais muito distantes em uma galáxia. Se tiver algum planeta perto e com vida, tudo é varrido. Supernova é bom ou ruim? Sem elas, não teríamos elementos químicos dentro do nosso corpo; ou melhor, não teríamos sido formados. Claro que nem estou entrando na questão do problema do mal; este assunto é uma outra série que o Francirley começou aqui.

Finalizando no texto bíblico de Mt 24:7. Alguns interpretam, de forma ao pé da letra, que se Jesus disse uma coisa ou outra, isso significa que é / será histórico e exatamente como Ele disse. Esse tipo de interpretação quebra toda a literatura e a exegese do texto. Por exemplo, essa passagem é apocalíptica (o tipo de texto): há características muito específicas nesse tipo de literatura que nem temos em português; deve-se ter um cuidado muito grande na hora de ler passagens como essa e colocá-la em nossos dias atuais. Então, pelo que relatei com foco na dinâmica de placas tectônicas, ter / não ter terremotos é um fenômeno natural. E eles advém das leis físicas, criadas por Deus.

Eu sei que você está pensando em relacionar a ação de Deus e um vulcão em erupção, por exemplo. Com relação a essa questão e diversas outras (amarrando Deus aos efeitos finais de fenômenos naturais) deixarei uma recomendação: série Lab ABC2 com o prof. Pedro Dulci. Mais especificamente este vídeo onde ele vai mostrar, de uma forma bem plausível, a ação de Deus na natureza através da mecânica quântica. É um assunto extenso, um pouco complexo mas pretendo escrever outra coluna sobre este assunto mais para frente.

Então não teremos fim do mundo por vulcanismo?! A Terra não vai rachar com terremotos ou se inundar com maremotos?! Não, para as duas questões. Ressalto novamente que vidas humanas, com valor incalculável, podem ser perdidas por esses fenômenos naturais, assim como quaisquer outros que sempre aconteceram no nosso planeta. Mesmo assim, isso não é o apocalipse, o fim do mundo, ou prova cabal da inexistência de Deus. Não. Claro que o desejo do ser humano é entender tudo, querer ter todas respostas ou, para nós cristãos, ouvirmos cada detalhe do plano de Deus. Mas, como está escrito:

Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.

Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.

Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come,

Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.

Isaías 55:8-11

Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.

Sugestão de leitura

Dr. Alexandre Fernandes

Até a próxima!


Imagem destacada do belíssimo vulcão em erupção Sakurajima, Japão, em janeiro/2013. Apesar dos transtornos, eles são objetos bonitos de se observar e pode nos trazer compreensão de como funciona nosso planeta.
Fonte: https://apod.nasa.gov/apod/ap180513.html

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