Apocalipse moderno: o ET não mora perto de nós
Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de âmbar, que saía do meio do fogo.
Ezequiel 1:4
O espaço é, definitivamente, um lugar onde as imaginações não tem limite. “O céu é o limite” nunca fez tanto sentido como ultimamente na questão de se idealizar seres de outros planetas (também conhecidos como aliens, ETs, homenzinhos verdes ou marcianos). A coluna de hoje seguirá na linha da anterior. Nela tratei um pouco sobre a questão de que os EUA, ao publicarem no final de junho de 2021, não citaram explicitamente que há indícios de visita de outros seres ao nosso planeta (mas eles existem e virão ainda?). No texto seguinte tratarei sobre um fenômeno muito intrigante, ainda em pesquisa no meio astronômico (ou seja, em ciência séria): a variação de brilho da estrela KIC 8462852 ou, usando apenas o nome comum, estrela de Tabby. Já adianto que o código KIC 8462852 não é nossa localização espacial e muito menos uma mensagem de socorro para ETs virem nos buscar: essas letras + números são códigos astronômicos para catálogos.
O que tem de especial nela é que o seu brilho, observado aqui da Terra, teve variações muito estranhas. Estranhas no sentido que tudo o que conhecemos como variação de brilho não se encaixava a ela. Por exemplo, quando há poeira, exoplanetas (planetas fora do sistema solar), nuvens de gás ou poeira, passagem de asteroides / cometas, destruição de planetas com estilhaços sendo espalhados e outras coisas, tudo isso pode diminuir o brilho da estrela. Mas, nada do que conhecemos ou simulamos, por mais bizarro (no sentido de configuração astronômica) explicava aquele tipo de comportamento de oscilação de brilho.
Em uma outra coluna expliquei o que é uma estrela. Apenas para contextualizar: estrela é um grande corpo que realiza processo de fusão nuclear. Com isso, ela emite uma grande quantidade de luz (radiação). Essa radiação é captada na Terra por telescópios e observamos o comportamento desse brilho. Só olhando para isso (luz e tempo de emissão) somos capazes de dizer tudo sobre aquela estrela: idade, composição, distância, quando ela morrerá etc. Inclusive, quando a estrela entra em variação de brilho (como a Betelgeuse; ainda falarei dela aqui), já sabemos o que acontecerá com ela e até podemos colocar tempo para tal ou tal evento. Mas, tudo isso (explicações de variação de brilho) não se encaixava com a estrela de Tabby. Antes de continuar, vamos dar uma olhada no que é essa estrela.
A estrela de Tabby está localizada a cerca de 1.480 anos-luz de distância (1 ano-luz ~ 9,5 trilhões de km) na constelação do Cisne.
Há um projeto chamado Planet Hunters. A ideia é bastante simples e muito interessante: são analisados dados de observações de estrelas. Esses dados são variações de brilhos de estrelas e, utilizando modelos teóricos em conjunto com outros dados de outras missões, vários exoplanetas podem ser descobertos. A fonte dos dados do Planet Hunters é a missão TESS (Transiting Expoplanet Survey Satellite), um projeto da NASA em parceria com a universidade MIT. Um exemplo para melhorar essas explicações:
Veja a figura acima. Nela, você observa uma estrela (qualquer) e um corpo (um exoplanetas: um planeta que está fora do nosso sistema solar). Só que, com observação direta, você não observa a estrela e o planeta bonitinho, do jeito que é mostrado na figura: o que é observado é o gráfico. Os telescópios observam o brilho (brightness) da estrela ao longo de um tempo (time). E observam que durante algum tempo, o brilho diminui e, depois, volta ao nível original. Fazendo as contas e utilizando, dentre outros modelos as leis de Kepler, é encontrado e caracterizado (massa, tamanho etc) o novo exoplanetas. Ou seja, o cerne da observação é o brilho da estrela, a variação que ele tem ao longo tempo e o que está ao redor da estrela. Tudo isso, incluindo as características físicas da estrela (tamanho, massa, rotação etc), é bem conhecido e qualquer coisa fora da normalidade chama muita atenção. E é aqui que entra a KIC 8462852.
Em 2016 a profa do departamento de física e astronomia da Lousiana State University, Tabetha Boyajian, publicou um artigo (técnico, https://academic.oup.com/mnras/article/457/4/3988/2589003) onde fala sobre a estrela KIC 8462852 e a falta de fluxo repentino. A colaboração (pessoas que assinam o artigo) é grande e envolve diversas universidades e centros de pesquisas. O que chamou a atenção de toda essa turma é que a estrela de Tabby (Tabby = apelido carinhoso à profa Tabetha) tinha uma diminuição do brilho em 20%, de forma irregular (aperiódica) e que variava, em tempo, entre 5 e 80 dias. Um exemplo tirado da pág 3 do artigo https://academic.oup.com/mnras/article/457/4/3988/2589003:
Como fazemos em ciência: tomamos os dados (observação da estrela durante um tempo), vemos o que pode ser dentro de um conjunto teórico (leis e teorias), comparamos com outros dados e finalizamos a pesquisa dizendo que esse fenômeno é explicado dessa forma e acontecerá tal e tal coisa no futuro com essas características. Isso é ciência. Só que a estrela de Tabby não se encaixava com o que era conhecido. Neste caso levantamos hipóteses: ideias a serem testadas. As que forem comprovadas, se tornam evidências para um modelo teórico; as que não passam em testes, são descartas. Simples assim, mas é bem mais complicado na prática, óbvio.
As hipóteses apresentadas foram as mais diversas e até hoje se busca uma explicação melhor, pois há várias hipóteses, ainda válidas, concorrendo entre si dizer o que está acontecendo com a estrela de Tabby. Mas, quero chamar a atenção para uma hipótese muito interessante: a construção de uma megaestrutura alien. Veja, usei a palavra correta: hipótese. E sim, é uma hipótese científica, por mais absurda que seja.
Explicando melhor. Um físico da Pennsylvania State University e que também colabora na NASA publicou um artigo (técnico, https://iopscience.iop.org/article/10.3847/0004-637X/816/1/17) colocando a hipótese de que ao redor da estrela de Tabby estaria sendo construída uma megaestrutura chamada esfera de Dyson: uma espécie de capsula para captar toda a energia (luz) da estrela e essa energia ser utilizada pela civilização alien. Novamente, vamos por partes e começando com essa esfera de Dyson.
Dyson foi um grande físico do séc. XX. Ele propôs, em 1960 na revista Science, que uma das formas de se detectar vida extraterrestre com inteligência avançada seria ver estruturas e tecnologias que ela pudesse criar. Uma dessas estruturas é uma esfera, um tipo de casca esférica, que rodearia uma estrela com intuito de captar toda (ou a maior parte) da energia emitida. O objetivo disso é óbvio: todo desenvolvimento tecnológico começa com fonte de energia (bateria, energia nuclear ou solar). Então, uma civilização avançada com esse tipo de tecnologia estaria muito à frente de nós, pois estaria em outro patamar de desenvolvimento. Jason Wright, o físico da Penn State University / NASA, publicou um artigo que coloca justamente essa hipótese, uma construção de uma esfera com intuito de captar energia da estrela de Tabby, como a explicação da mudança de brilho da estrela KIC 8462852.
Prof. Wright tem um blog que fica hospedado na Penn University onde ele fala sobre essa descoberta e a proposta dessa hipótese. Como ele mesmo coloca no texto, a hipótese é a última possibilidade; como ciência, deve ser testada como qualquer outra. Então, não chega a ser um absurdo científico completo.
Então achamos a morada dos ETs? Aliás, pelo menos a morada de uma civilização, certo? Não tão rápido assim. A última atualização que acompanhei sobre a estrela de Tabby é que não há fechamento completo de explicação e a hipótese de aliens criando tecnologias permanece. Mas, para o nosso propósito aqui na série Apocalipse moderno: fique tranquilo que, se os aliens realmente existem e são civilizações mais avançadas, tecnologicamente falando, eles estão muito longe (astronomicamente) de nós. Utilizando esse exemplo da estrela de Tabby: se eles existem e estão lá, então para virem aqui “nos fazer uma visitinha” gastarão 1.480 anos (caso tenham tecnologia para viajar na velocidade da luz) para chegar até aqui. Ou, pense de outra forma: suponha que eles estão nos observando agora. Eles estão nos vendo como éramos há 1.480 anos: estaríamos no séc. VI, sem tecnologia alguma para responder qualquer tipo de contato. Ao chegar aqui (até mesmo perto) detectaríamos a presença deles.
Sem muita viagem como coloquei no parágrafo anterior: apesar da hipótese de aliens não ser descartada na estrela de Tabby é algo altamente improvável: há diversas outras hipóteses sendo testadas e mais plausíveis. Digo improvável e plausível com a ideia de que colocar a ideia de alien como explicação para esse fenômeno da KIC 8462852 responderia uma pergunta, mas abriria uma caixa de Pandora de milhares de outras perguntas e muito mais complicadas.
Novamente, aqui a Bíblia não dá qualquer indicação de ETs ou guerra intergaláctica (ou até mesmo estelar) e nem visita de ilustres aliens. Assim como não teve, até o ano de 2021, nenhum ataque extraterreste no 04 de julho americano, podemos aguardar os próximos aniversários da independência americana de camarote: assistindo aos filmes de Hollywood ou na literatura.
E, quanto à semelhança dos seres viventes, o seu aspecto era como ardentes brasas de fogo, com uma aparência de lâmpadas; o fogo subia e descia por entre os seres viventes, e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos;
Ezequiel 1:13
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Sugestão de leitura
- O melhor material, em português, no assunto entre ciência e fé cristã é o Dicionário de cristianismo e ciência, editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência;
- No site da ABC² há muito material (artigos e vídeos no YouTube) sobre o relacionamento entre ciência e fé cristã: http://cristaosnaciencia.org.br/.