A Terra é plana? Eclipses solar e lunar
E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro.
Js 10:13
O assunto de hoje é bastante simples mas traz uma das mais belas observações: eclipse solar e eclipse lunar. Minha intenção, neste momento, não é detalhar todos os fenômenos (superlua, lua de sangue etc) e as implicações simbólicas nas civilizações; farei isto em outros momentos. Apenas descreverei como os astros se posicionam em cada acontecimento. As aplicações para a impossibilidade, por exemplo, do terraplanismo (que estamos discutindo em uma série https://horadeberear.com.br/tag/serie-terra-plana/), apenas com esses fenômenos, são imediatas, mas abrirei um pouco mais essa discussão, sem esgotá-la.
Já falei, bem rapidamente, sobre o Sol e a Lua no contexto de sistema solar (aqui, aqui e aqui) e as distâncias / tamanhos. As leis de dinâmica desses dois astros, incluindo o sistema Lua-Terra, seguem leis de Kepler assim como a Terra-Sol, planetas-Sol ou qualquer outro sistema do universo.
De forma gráfica, abaixo coloquei algumas representações dos eclipses. O primeiro, solar, onde a Lua passa entre o Sol e a Terra, fazendo sombras nessa última:
Aqui, uma representação do eclipse lunar, onde a Lua passa em uma linha que está a Terra e o Sol, ou seja, na sombra que a Terra faz a noite:
Já essa representação coloca os 2 eclipses no mesmo esquema. Observe que o eclipse solar acontece quando é lua nova (Lua perto do Sol, em relação a visão do observador, durante o dia e não vista a noite). Já o eclipse lunar ocorre na lua cheia:
Um detalhe importantíssimo que é destacado das imagens é a questão de escala. Obviamente as representações (quase todas, em ciência) estão fora de escala pois as dimensões são grandes demais.
Como mencionei em outro texto e acima, o sistema solar inteiro anda nas leis da mecânica newtoniana (também chamamos de física clássica). Com isso, podemos calcular e, apoiado com registros ao longo de toda a história, qualquer eclipse em qualquer época. No site da NASA (National Aeronautics and Space Administration, agência aeroespacial americana), contrário ao que dizem vários conspiracionistas, há dados divulgados e públicos sobre eclipses (solar e lunar) desde 2.000 a.C. e simulações que vão até o ano 3.000.
E na Terra plana, como funcionaria estes fenômenos? A base que utilizarei é o site wiki da Flat Earth Society, que é um “recurso colaborativo e mantido pela Sociedade Terra Plana” (tradução livre de a collaborative resource maintained by the Flat Eartth Society que está na página principal). Na página há o tratamento relativo ao eclipse lunar e ao eclipse solar. Não vou detalhar cada ponto pois você mesmo pode conferir nessas fontes. Os sites estão em inglês mas descreverei, aqui, em português (tradução livre).
O Sol, para o terraplanismo, é uma esfera giratória com diâmetro aproximado de 51 km (32 milhas) e está a uma altura da superfície de aproximadamente 4.800 km (3 mil milhas). A Lua também é uma esfera giratória de mesmo diâmetro e distância da superfície que o Sol. Só nesses detalhes “astronômicos” já é perceptível o absurdo. A começar com o tamanho do Sol: uma grande bola de fogo (já que está “dentro” do domo, tem oxigênio como combustível) que está queimando há tanto tempo sem diminuir de tamanho. Obviamente não é por processos nucleares, já que no terraplanismo a gravidade é negada e há uma conspiração em tudo; negar a física quântica é só um detalhe, pois tudo nela não pode ser visto a olho nu (partículas, átomos e moléculas). A Lua é outro problema: tem o mesmo tamanho do Sol e está relativamente perto, mas nenhum ser humano foi até ela, mesmo que não há problemas físicos para chegar até lá.
O eclipse solar ocorre da mesma forma que entendemos fisicamente: a Lua passa entre a linha Terra-Sol. Aqui o fenômeno já começa a ficar estranho, pois o Sol e a Lua têm o mesmo tamanho e distância. A única explicação lógica é o Sol subir e/ou a Lua descer a sua órbita. Mas, se a Lua e o Sol têm o mesmo tamanho, em um eclipse solar veríamos o Sol ou a Lua um pouco maior (já que a Lua estaria um pouco mais perto). Mas isso não é observado.
A explicação para o eclipse lunar, que não é a Terra passando pela linha Lua-Sol, já parece uma brincadeira de criança. Há 2 mecanismos, explicitados no site, para este fenômeno. Um deles é a aceleração eletromagnética: curvatura dos raios solares. E ainda utilizam artigos (outros sites) sérios, incluindo a universidade de Stanford, para explicar essas “curvaturas”. O problema é que nada disso é possível: o eletromagnetismo, o único responsável por isso, não tem esse comportamento. Os fenômenos estudados pelos artigos citados não têm nada a ver com o fenômeno astronômico. Resumindo: a luz sempre caminha em linha reta para iluminar todo o planeta.
A outra explicação para o eclipse lunar é ainda mais grotesca: um “satélite”, denominado por objeto escuro ou antilua está passeando em um ângulo inclinado em relação a orbita do Sol. Em algum tempo ele passa entre a Terra e a Lua, escurecendo esta última. O que é esse objeto, sua composição ou outras observações são completamente desconhecidas. Para piorar o cenário, a explicação para a lua ficar avermelhada (em alguns casos; também conhecida como Lua de Sangue) é que a luz solar é tão poderosa que é capaz de atravessar o objeto, análogo as brincadeiras de criança de colocar a lanterna na mão e ver algumas partes da pele.
Em resumo, os eventos de eclipses solar e lunar são bem conhecidos há milhares de anos e sua explicação está bem fundamentada em observações e cálculos que envolvem, de forma abrangente, diversos outros fenômenos (como movimentos de planetas no sistema solar ou de astros no universo). A tentativa frustrante do terraplanismo, para esses fenômenos, colocando o Sol e a Lua na mesma órbita e com o mesmo tamanho, é algo completamente sem sentido observacional (nem precisa, neste caso, de NASA), fora a negação da força gravitacional que discutimos em outra coluna.
Apenas como surpresa em um próximo texto, não detalharei sobre o capítulo 10 de Josué. É que este texto bíblico tem muitos detalhes interessantes e intrigantes e um dos modelos possíveis que explica este evento tem relação com eclipses. Mas, já adianto: não há nenhuma explicação minimamente plausível para o terraplanismo ou geocentrismo que pode ser aplicado a este texto pelo simples fato de que qualquer tentativa, deste nível, rasga a exegese e a hermenêutica. É obvio, logo de cara, que o texto não está ensinando ciência, terraplanismo ou geocentrismo (assim como nenhuma parte da Bíblia).
Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom.
Js 10:12
Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.
Sugestão de leitura
- Dicionário de Cristianismo e ciência, editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos;
- Livro Astronomia e astrofísica, por S. O. Kepler e Maria de Fátima Saraiva. Este livro é disponibilizado no próprio site dos autores, que são professores da UFRGS. É um excelente material de consulta: http://astro.if.ufrgs.br/livro.pdf;
- Um documento interessante e simples sobre eclipses: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000014522.pdf;
- Uma aula de astronomia e astrofísica do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre eclipses e outros detalhes adicionais pode ser vista aqui.
Até a próxima!