A Terra é plana? A Lei de Gravitação
O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;
Hb 1:3
Hoje vai ser um texto crossover entre a série A Terra é plana? (acompanhe todos os artigos deste tema por aqui) e cosmologia. Como é o nosso lema, CosmoTeo: cosmologia e teologia no mesmo universo (veja os pontos que comecei aqui), tratarei, de forma panorâmica, a lei de gravitação universal proposta inicialmente por Isaac Newton no séc. XVII. Sem adentrar nas questões técnicas e nos problemas que foram resolvidos apenas no séc. XX, farei uma aplicação ao nosso planeta. Há diversas outras formas de evidenciar que a Terra não é plana (comecei na coluna anterior) e nesse texto apresentarei a impossibilidade da Terra ser plana utilizando, como aplicação, a lei de gravitação universal newtoniana. Óbvio, a gravitação clássica newtoniana tem milhares de outras aplicações, como envio de satélites ao espaço e envio de seres humanos a Lua (vários já pousaram e andaram por lá) e a Marte (no futuro).
Antes de entrarmos na questão sobre a gravidade, um pouco sobre outro tipo de força. Para alguns terraplanistas modernos (não sei se todos) o eletromagnetismo é responsável pelos efeitos gravitacionais. Ou seja, o que consideramos, na física, como fenômenos decorrentes da força gravitacional é, na realidade, derivação da força eletromagnética. Obviamente isso não faz o menor sentido, nem teórico: nesse texto mostro um pouco do funcionamento do eletromagnetismo, neste outro trabalho um pouco sobre o geomagnetismo, ou seja, o campo eletromagnético natural da Terra e aqui ainda falo sobre a questão se ficaremos ou não sem a proteção do geomagnetismo. Em nenhum momento menciono a questão gravitacional como suporte ou o eletromagnetismo como responsável por quedas e segurar os objetos na superfície terrestre.
Não vou trabalhar sobre a natureza da gravitação pois é um assunto complexo e, até este momento, a gravidade não é quantizada: não detectamos a partícula responsável (o teórico gráviton) análogo ao fóton do eletromagnetismo. Mas, pelo que mencionei acima com outros textos que já trabalhei é completamente natural associar que a gravidade é um fenômeno totalmente diferente do eletromagnetismo. As próprias equações são diferentes em natureza e nos objetos envolvidos:
Onde:
- F = Força gravitacional
- G = Constante gravitacional
- m1 e m2 = Massas dos corpos (por exemplo, do Sol e da Terra ou da Terra e da Lua)
- d = Distância entre os corpos
Onde:
- F = Força eletromagnética
- k = Constante eletromagnética
- q1 e q2 = Carga dos corpos (por exemplo, do elétron e do próton)
- r = Distância entre os corpos
Calma, não vou resolver exercícios; não é o objetivo aqui. Apesar das equações serem semelhantes algebricamente (isso tem a ver com o ajuste fino que há no universo), uma trata de massa de corpos e a outra, cargas. Um detalhe adicional: para quem é das ciências da natureza, não vou discutir a questão sobre vetores, mas já estou assumindo que d e r são vetores radiais.
Observe a primeira equação, que é da gravidade newtoniana. Nela, no denominador, tem uma variável, d, que é a distância. A forma que definimos distancias em nosso mundo é por uma reta. Isso quer dizer que a interação entre os corpos (as suas massas) sempre é em linha reta: um corpo atrai outro corpo sempre de forma radial (em caminho reto). Aqui, obviamente, não estou considerando distorções no espaço-tempo, curvatura da Relatividade ou torção do Teleparalelismo; assuntos para outro momento.
Resumindo a parte teórica da gravitação: corpos atraem corpos sempre em linha reta. A gente pode fazer experimentos sobre isso de milhares de formas, por exemplo, deixar objetos caírem. A diferenciação de queda natural em linha reta de objetos e o eletromagnetismo vai estar relacionado a cargas elétricas. Por exemplo, se você esfregar seu cabelo com um pente de plástico (de preferência em um dia seco e com os cabelos secos) e aproximar (o pente) em pedaços de papel, estes serão atraídos. Outra brincadeira de criança é utilizar imãs (de autofalantes ou de geladeira) e “colar” pedaços de ferro:
Mas, onde entra a Terra não ser plana devido à gravidade, que é uma força radial (sempre funciona em linha reta)? A impossibilidade de sua planaridade. Relembrando o texto sobre a formação da Terra: ela começa em uma nuvem grande de gás e poeira, na época que o Sol acabou de nascer e, por aglutinação, vai se formando a Terra. O detalhe está na junção destes elementos: a força gravitacional vai agindo em cada quantidade de massa (poeira, rochas de todos os tamanhos, gases etc) e puxando todos em linha reta (como é o funcionamento da gravidade pela equação lá em cima. Ou seja, devido a perturbação dos objetos, eles vão ficando cada vez mais juntos (devido à gravidade) e a forma de aglutinar muitos objetos (muitas massas) em um só (uma só massa, a Terra) é por efeitos gravitacionais que age sempre em linha reta.
Em outras palavras, a Terra tem uma formação por “colagem” de objetos. A forma que esses objetos vão se juntar é pela gravidade: quanto maior a junção de objetos, maior a massa, maior a força gravitacional. Por outro lado, quanto menor a distância entre esses objetos, maior a força gravitacional, maior a massa e o ciclo vai ficando mais intenso.
Temos evidências de sobra de que a Terra (e qualquer outro planeta, luas, estrelas etc) se formam através de processos gravitacionais (há outros processos, mas não é o caso aqui). Reveja no texto sobre a formação da Terra onde menciono várias evidências, observacionais, de outros planetas e sistemas planetários que estão nascendo ou já estão em outras fases de formação. Todos, sem exceção, são arredondados e nenhum é plano ou algo semelhante. Quem proíbe que corpos massivos de se formarem de forma plana: a lei de gravitação universal de Newton, ou seja, em qualquer lugar do universo essa lei é válida e descreve corretamente essas formações.
Generalizando: todos os planetas do sistema solar (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), todas as estrelas visíveis a olho nu (incluindo o Sol), todas as estrelas observadas por diversos instrumentos (luz visível, rádio, infravermelho etc) e até buracos negros tem sua forma arredondada e nenhum objeto conhecido ou previsto teoricamente tem a sua “geometria planificada”.
Mas, e os textos bíblicos que mencionam os quatro cantos da Terra, as paredes para segurarem as águas dos mares e milhares de outros exemplos? Como mencionei na outra coluna o conhecimento cosmológico dos povos do Antigo Oriente Próximo, incluindo Israel, era extremamente restrito ao conhecimento científico que temos hoje. Na época de Isaías ou João não havia conjunto de radiotelescópios ou telescópios espaciais como temos atualmente. Mas, isso não invalida, de forma alguma, a revelação especial de Deus no livro sagrado: Ele é o criador de todas as coisas, o homem caiu, entrou o pecado no mundo, Ele se encarnou na pessoa de Jesus, morreu e ressuscitou para termos salvação.
Se Josué não tinha conhecimento astronômico do sistema solar ou se Ezequiel não sabia dos movimentos de translação e rotação da Terra (trabalhei sobre geocentrismo e heliocentrismo aqui) não há problema algum: a descrição de observações é do ponto de vista do escritor e jamais do que realmente é, de acordo com a realidade física. É uma aberração exegética querer corrigir as palavras de Jesus em Mt 24:29 (onde ele diz que “as estrelas cairão do céu”): não há erro, na visão das pessoas do séc. I acreditar que estrelas caem do céu porque eles não têm a menor noção do que é uma estrela (objeto massivo que realiza fusão nuclear) e qual o seu tamanho (que está relacionado a sua massa e sempre será muito maior do que a Terra). Querer adaptar o texto ao nosso conhecimento atual e corrigi-lo ou forçar a sua literalidade (ao pé da letra) é desconsiderar todo o rio cultural da época e forçar uma hermenêutica (transcender a mensagem da Bíblia para todas as épocas e regiões) que não existe, por exemplo, de que a passagem ensina que a Terra é plana.
Em resumo, a física, mais especificamente a lei de gravitação universal descrita por Newton no séc. XVII, impossibilita qualquer corpo massivo astronômico tomar a forma planar em estágios finais, como estrelas e planetas. A Bíblia nunca foi e nem é um manual de ciências, de curiosidades científicas ou tem a menor intenção de ensinar qualquer coisa sobre cosmologia ou astronomia; quando menciona sobre eventos ou lugares desse tipo, sua intenção é descrever aquilo que o escritor está vendo. A revelação especial de Deus jamais é impositiva ao escritor original ou tenta ensinar ciências aos leitores sendo que nem o próprio autor tem esse conhecimento. A revelação especial não vai relatar sobre a realidade física ou ensinar cosmologia para os leitores (originais ou outros). É por esse e outros motivos que é um dever nosso estudar e entender o contexto cultural onde o texto foi escrito (exegese) e retirar a revelação divina da Palavra de Deus que é transcendente ao tempo e ao espaço onde foram escritas essas palavras.
Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.
Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?
Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina,
Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?
Ou quem encerrou o mar com portas, quando este rompeu e saiu da madre;
Quando eu pus as nuvens por sua vestidura, e a escuridão por faixa?
Quando eu lhe tracei limites, e lhe pus portas e ferrolhos,
E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se parará o orgulho das tuas ondas?
Jó 38:4 – 11
Só isso?! Sim! Mas, ficou em dúvida, quer perguntar algo, deixar algum comentário ou sugerir algum tema, deixe abaixo! Ficarei feliz em te responder, seja nos comentários ou em algum artigo específico.
Sugestão de leitura
- Dicionário de cristianismo e ciência, editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência;
- Terra plana, Galileu na prisão e outros mitos sobre ciência e religião, editora Thomas Nelson Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência;
Até a próxima!